sábado, 27 de janeiro de 2024

O HOMEM QUE SÓ NÃO FALAVA JAVANÊS

 Boanerges Cezário*

 

            Eu estava dia desses por aí, encontrei uns colegas do tempo da faculdade e, obviamente, rolou um bate papo por mais de quatro horas. Acontece que não ficamos satisfeitos com a conversa curta e marcamos logo um almoço para colocar assuntos em dia.

            Como todo grupo, que virou também de whatsapp, os encontros são marcados, mas por diversos motivos  nem todos podem comparecer.

            Criamos uma regra, se tiver um quorum mínimo de três pessoas, a gente realiza o encontro, que se efetiva uma vez por mês na última sexta-feira.

            Ali se conversa sobre tudo, idade dos filhos, netos, casamento, separação, aposentadoria, livros, bebidas, viagens, memórias dos corredores da faculdade, memórias de confras de fim de ano e até comentamos sobre amigos queridos que se foram para a eternidade precocemente.

            Num desses encontros, lembramos de uma estória engraçada que ocorreu com um colega muito inteligente da turma.

            Além de inteligente, esse colega tinha uma habilidade especial para aprender idiomas.

            Falava mais de cinco línguas fluentemente e arranhava diversas fora do eixo padrão. Arriscava russo, dialetos diversos, enveredava pelo mandarim. Inglês, francês, espanhol, alemão, italiano era natural para ele. 

        Tinha um colega que disse pra gente que ele dominava até línguas dos povos originários do Brasil...mas esse detalhe contarei numa outra oportunidade, pois iria, talvez, render algumas páginas a mais aqui, face a complexidade em que ele se enrolou numa aventura com uma personagem que falava a língua originária...

            Mas o fato que quero comentar aconteceu assim e assim foi que aconteceu.

            Esse amigo poliglota tinha uma filha que casou com um alemão, que por sua vez já fora empreendedor na Itália. Essa ligação é só para mostrar a diversidade geográfica na qual aquele amigo se incrustara.

            Mas eis que um belo dia a filha resolveu, com o marido, fixar residência  na Alemanha.

            E foi assim que o amigo começou a visitar a Alemanha toda vez que entrava de férias.

            Sempre que voltava, claro, era a novidade do almoço ele contar as aventuras na terra do sauerkraut e do schoppen.

            A última narrativa foi engraçada para a gente que ouviu, mas não sei se foi para ele que era um ator do ocorrido.

            Acontece que a empregada da casa da filha dele era natural da Moldavia, onde o idioma dominante lá é o romeno.

            Eis que o amigo, como gosta de treinar a língua, resolveu se aproximar da referida trabalhadora e treinar o idioma novo.

            Como ele é fluente, em poucos minutos as risadas já estavam soltas pela cozinha, a Moldaviana (se é que se chama assim) já tinha parado o serviço e já perguntava sobre o Rio de janeiro, carnaval, Pelé e essas coisas que o estrangeiro conhece lá de fora sobre o Brasil...

            O que ele não contava, e ela não esperava, era pela aparição repentina da esposa do amigo, que entrou na cozinha repentinamente e com algumas palavras e um gesto encerrou aquele bate-papo "babelônico"...

            A esposa do amigo, que é brasileira,  olhou para os dois com um par de olhos azuis bem abertos e simplesmente mostrou uma vassoura para o amigo e disse assim:

            - entregue pra ela e mande a falante de língua romena prestar atenção no serviço!

 

            A narração vai acabar por aqui, no próximo capitulo, narrarei aqui o que aconteceu depois da entrega da vassoura, que o amigo só contará no próximo almoço...ou não?!



Escritor*