sexta-feira, 11 de outubro de 2013

PASSE LIVRE (ou de como as galinhas estão presas e a chave do galinheiro fica com as raposas)

Boanerges Cezário*


                Na crista da onda dos movimentos pelo passe livre, muitos atores querem protagonizar também o papel de autores das idéias sobre o direito a passagem gratuita para estudantes da rede pública de ensino.
                Algumas cidades já possuem o passe livre, dentre as quais Rio de Janeiro, João Pessoa e outras por aí.
                O pleito dos estudantes é justo, é legítimo, no entanto o projeto de lei aprovado por unanimidade pela edilidade local não revela na prática como  será feito e efetivado o direito se  a lei for sancionada na íntegra pelo Prefeito.
                Os empresários apóiam a lei contanto que não tenham de pagar ou dividir a conta com ninguém, pois alertam que já trabalham com baixa margem de lucro.
                Há uma possibilidade grande do Prefeito vetar o projeto em face da inconstitucionalidade, diante de  uma aparente invasão de competência em razão da matéria, posto que o município não pode obrigar a União e o Estado dividir o ônus do Passe livre.
                Em esclarecedor  artigo publicado no jornal Tribuna do Direito (nº 246, out 2013), o Tributarista Walter Alexandre Bussamara comenta sobre a forma mais apropriada de remuneração dos serviços de transporte .
                Diz Bussamara no artigo em comento que “Observamos primeiramente que a remuneração de tais serviços, de per si, já assume a natureza de tributo em sua modalidade de taxa. O que se paga a tal titulo é uma taxa de serviços (artigo. 145, II, CF)
                E mais na frente, no mesmo artigo, ele arremata que “(...)qualquer pretensão de obtenção de dada soma em dinheiro para o custeamento de serviços públicos de transporte não poderá escapar de sua conformação por meio do tributo taxa.” (p.12)
                O que é intrigante aqui na caótica atmosfera natalense é que todos os vereadores foram favoráveis ao projeto de lei 98/2013,  apresentado pela vereadora Amanda Gurgel.
                É de se perguntar:
01 por que ninguém lembrou que o Prefeito poderia vetar o projeto vitorioso?
02 já sabiam da possibilidade do veto ?
03 ninguém lembrou de lembrar de onde viriam os recursos para bancar o passe livre?
04 por que só se fala em inconstitucionalidade do projeto quando se deveria falar se é exeqüível ou não?
                E como não existe almoço de graça alguém vai pagar essa conta.
                Se o Município pagar com os  recursos que dispõe, diminuirá de outro lugar ou criará taxa específica para isso.
                Se o Estado quiser fazer parceira e desonerar as empresas de ônibus será diminuída a arrecadação que já anda com problemas.
Os donos das empresas já disseram que não pagam.
Por tantas imprecisões e dúvidas técnicas parece que o projeto serve apenas para “queimar” a autora, pois se fosse exeqüível os debates teriam sido mais acalorados e a aprovação não seria por unanimidade.
                As vezes as galinhas ingênuas e inocentes estão presas e aparentemente seguras, mas a chave do galinheiro fica mesmo é com as raposas...
               

                Blogueiro, Estudante de Geografia

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