O capitalismo com
as suas contradições modernas e pós-modernas, que coexistem paralelamente, vem
enfrentando uma agonia que poucos estudiosos de cenários podem arriscar alguma
opinião.
Também não tenho
pretensão de pensar em cenários, mas as últimas greves dos trabalhadores da
indústria , agora pululando aqui e no primeiro mundo, ensejam mais um momento
para reflexão.
Reivindicando melhores salários e melhores condições de
trabalho nada há de tão elementar e justo nesses pedidos.
Vejam como o
capitalismo é ingrato. Nos anos 80 a desculpa era que a indústria não reagia
devido a falta de incentivos de governos ao norte e ao sul do Equador.
Imersos em crises
fiscais, os países não ofereciam estrutura adequada a implantação de parques
automobilísticos.
A tecnologia
acelerou processos de automação, os empresários donos das montadoras começaram
a migrar suas empresas para outros territórios, em face de arranjos econômicos
nos países em desenvolvimento.
Bem intencionados?
Claro que não. A migração dessas indústrias ocorreu em busca de mão de obra
barata e diminuição de custos. As isenções concedidas na verdade funcionam como
um financiamento disfarçado com o dinheiro do contribuinte, que por incrível
que pareça paga mais imposto, mesmo com salários congelados, pois aumento
salarial para trabalhadores é visto como aumento de custos, só isso.
A balela do
discurso neoliberal de criação de mais empregos é uma desconsideração à
inteligência do trabalhador.
Criam-se empregos
de salários baixos em condições até de trabalho escravo. Escravo sim porque
começam a ser inseridas no bojo do processo produtivo as famosas
terceirizações, que por sua vez utilizam imigrantes desqualificados, que
trabalham em troca de comida, de moradia...
E trabalho mal
remunerado é ótimo para quem produz a baixo custo.
A solução para
isso seria de imediato uma postura de atitudes antiexploração. Ao invés de
greve, o trabalhador poderia pensar em largar o papel de alimentador desse
sistema injusto.
Há pouco tempo,
aqui no Brasil, a mídia divulgou, por exemplo, que uma empresa aérea estava
cortando empregos em face do prejuízo acumulado.
Alguns meses
depois, tal empresa anunciou um grande investimento comprando muitas aeronaves.
Onde estaria o prejuízo alarmado anteriormente? Mas os trabalhadores,
alimentadores também de tal sistema injusto, não tem perspectiva de aumento salarial
e a contratação dos demitidos também deve estar fora de cogitação. O velho
exército de reserva, previsto pelos economistas, fica valendo. Então como uma
ciranda, contratam-se novos trabalhadores com menores salários e por ai
continua o ciclo.
Por enquanto, corte de custos só com trabalhadores, mas se sutilmente
estiverem incluindo também cortes nos custos de manutenção das aeronaves? Quem
controla isso?
Você, leitor, que
talvez estivesse nascendo em 1980, não viu o estrago que Thatcher fez no Reino
Unido em nome da privatização neoliberal.
E quem presenciou
talvez não se lembre que Alan Budd, conselheiro de Margareth Thatcher, admitiu
que "as políticas dos anos de 1980 de ataque à inflação com o arrocho da
economia e gastos públicos foram um disfarce para esmagar os trabalhadores, e
assim criar um exército industrial de reserva" (HARVEY, David. O Enigma do
Capital, 2012, p.21, editempo editorial).
Infelizmente, o
trabalhador novato, ávido por colocação no mercado, acredita na mensagem do
CEO, que sempre é mais velho, de que o problema é a folha de salário dos mais
velhos e experientes. Então como prostitutas, esses velhos e experientes são
trocados por mais novos, que vão fazer o mesmo serviço, ou talvez até mais, por
menos, ou seja, reinicia-se um novo ciclo, onde os novos de hoje serão os
velhos e experientes de amanhã, que serão trocados...
E, pasmem, essa
visão vem sendo implantada no serviço público aqui no Brasil, criando
inconscientemente antagonismo entre os novos e antigos trabalhadores, quando o
problema não enfrentado é a desvalorização da boa prestação de serviços, onde
se aposta na desunião da classe e sucateamento da máquina administrativa.
Sobre a
intersecção entre Trabalho e Prostituição tratarei numa próxima resenha.
Boanerges
Cezário
Blogueiro,
Estudante de Geografia
UFRN
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