domingo, 4 de novembro de 2018

UM COMANDO, UMA VOZ (memórias de um Mestre de Cerimônias)


Boanerges Cezário*

Trabalhei junto ao cerimonial de uma instituição por 20 anos. Pouca gente percebe, mas há diversas ações de última hora para que o evento se realize.
Comandos e falas são encaixados em seus devidos lugares e de forma discreta para que tudo saia perfeito durante o cerimonial.
A todo minuto se confere a lista de presença, alterações, novas inserções de pessoas a formarem a mesa, a lista de convidados, o seleto rol de quem vai ficar na sala vip, dentre outras ações.
Na formação da mesa, há um item importante a se observar: a ordem de onde
cada pessoa, de acordo com o seu grau de importância no evento, deverá se posicionar, pois alguém certamente irá ocupar a cadeira central da mesa.
Ler, reler o script é fundamental para não se esquecer nomes, não colocar quem não vai ser chamado, não trocar tratamento, enfim, uma falha nesses momentos tensos que antecedem o evento pode ser fatal para o bom resultado da cerimônia.
Mas há uma regra, que considero fundamental para que cada evento saia dentro dos padrões. Chamo de regra raiz, que é “UM COMANDO, UMA VOZ”.
Nada nem ninguém pode esquecer de observar tal regra, pois é nela que está concentrado todo o equilíbrio das ações e atividades que serão desencadeadas.
Assim, nem todo mundo pode convidar todo mundo para participar de uma mesa, ocupar poltronas. Nem todo mundo pode fazer discurso, fazer apartes, falar de improviso etc
Essas experiências e memórias de cerimoniais que participei fizeram me lembrar dos últimos momentos noticiados na mídia sobre a fala do presidente eleito e dos seus prováveis ministros.
Como ele é Capitão do Exército, parece que o seu vice, superior dele na vida da caserna,  quer falar sem a anuência do chefe, pois durante a campanha isso já tinha acontecido.
Por sua vez, o provável Ministro da Fazenda também já entrou em choque com a fala do presidente sobre diversos assuntos, dentre eles, relações com a China e Previdência.
Os três tem opiniões fortes e aparentemente divergentes, mas para que a cerimônia de governança dê certo, é preciso que conversem antes nos bastidores para que só a fala do Presidente venha à tona, pois ele afinal de contas é o chefe do governo é o “comandante do cerimonial.”
Um chefe de cerimônia ficaria louco se recebesse ordens de várias pessoas para seguir num evento sem convergência no script.
Para preservar o emprego dele e o brilhantismo do evento, o Mestre de Cerimônia deve seguir as orientações do Presidente do evento. Por mais que os outros apareçam ou queiram aparecer, a regra “UM COMANDO, UMA VOZ”  é a mais sensata e correta.
A capilaridade excessiva nos eventos da vida deve ser evitada para que o cerimonial não se transforme em “CASA DE MÃE JOANA”.
E assim, durante anos e anos como Mestre de Cerimônia, aprendi que não se pode tirar o brilho do ente mais importante do evento. Quem não quiser seguir a regra, que crie seu próprio evento e forme sua própria equipe.


 Blogger*








4 comentários:

  1. Boanerges, excelente reflexão... está ficando preocupante a falta de uma voz única... como o Presidente é quem manda, uma hora ele vai dar o murro na mesa, e vai ter muita gente melindrada ... e gente melindrada não faz um bom governo..
    Muito bem colocado o seu texto.

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  2. Quem é o porta-voz do futuro governo? Esse cara é quem deveria estar sintetizando o pensamento para evitar o famoso bate-cabeças. A equipe de transição de Bolsonaro parece que é formada por integrantes do antigo programa televiso "Os Trapalhões".

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